sexta-feira, julho 30, 2010

"Se pudesse, matava o bicho a rir!"


Com esta frase inicio o que pretende ser um agradecimento à existência de António Feio, à sua passagem nas nossas vidas, porque é uma frase que, inevitavelmente, associo a esta grande figura da cultura portuguesa, a este Senhor que fará parte da nossa vida para sempre, porque já fazia antes, não porque morreu.
Esta semana foi marcada por mais duas perdas com a mesma origem.
O pai da minha amigalhaça, finalmente, cedeu à luta injusta e ficará para sempre no seu Alentejo.
António Feio pereceu ontem, mais mediático, claro, mas a luta na mesma origem.
A minha pergunta acaba por ser mais forte: mas que luta?!
Nós conhecemos o desfecho generalizado desta chamada "luta", onde ganha sempre o mesmo, logo, que justiça há em lutar? Para quê o esforço?! Mais uns dias, mais ou menos dignidade, não querer morrer, ter esperança de viver... As pessoas dedicam-se tanto a essa esperança que acabam por ter toda a gente à sua volta, a acreditar que é possível, a ter esperança na cura e no regresso são e vistoso daquele que conseguiu, não ultrapassar, mas atravessar esse território e sair vencedor.
Depois, nada disto acontece.
Conheço pessoas que venceram esta luta. Conheço pessoas que, vencendo a luta, continuam a viver com medo de terem de regressar à batalha.
É aqui que volto a focar António Feio... apesar da luta ser dura e cruel, muitas vezes desanimadora, não vencendo a batalha, manteve sempre um espírito mais positivo do que a maior parte das pessoas que sobreviveram à batalha. Talvez o problema seja mesmo a palavra: sobreviveram! Por que não "venceram"?! Foram justos vencedores de uma batalha tão injusta como penosa!

António Feio dizia que estava cá "para dar cabo do bicho". Não tendo conseguido totalmente, suponho que conseguiu, de alguma forma, o seu objectivo, pois, com certeza, o "bicho" nunca deve ter encontrado, ao longo da sua longa existência, quem lhe tivesse dado uma luta tão humorística e tão inteligente.
Até sempre!