sexta-feira, setembro 26, 2008

Os pequenos infernos...

Há sítios que se associam plenamente ao conceito de Inferno que a Igreja fez o favor de espalhar pelo mundo e redondezas...
Todo o mundo está ali representado. Dentro de todo o mundo, todas as suas localidades mais ínfimas. Por vezes, parece que escolheram os exemplos mais feios da sociedade e os colocaram ali, juntos, não porque são feios, mas porque assim se tornaram no momento em que foram confrontados por essa espécie de inferno.

Há quem arranje as unhas, quem masque pastilha de boca bem aberta, quem tresande a suor (mesmo de manhã cedo...), quem use camisolas de alças interiores como se t-shirts fossem, quem traga crianças para ser atendido mais depressa e que, nesta loucura camuflada, também as crianças desesperem, há quem olhe para o decote do lado, para as pernas, para o que quer que seja que os faça esquecer do local miserável onde estão.
Parece, também, haver quem se divirta. Juraria que há gente que vem a estes sítios só para refilar, só para os tornar piores, só para fazer com que as pessoas se lembrem do local onde estão. São pequenos diabretes, miseráveis, que se tornam vermelhos de raiva e brilhantes de esplendor. As veias dilatam-se na testa fazendo lembrar pequenas pontas, rijas de ferocidade. O rabo mostra-se, de vez em quando, principalmente quando conseguem ter atenção de todos os outros presentes, da felicidade que emanam por terem sido notados.
Os bancos desconfortáveis levam ao desespero aqueles que se levantam, como se o tempo pudesse passar mais depressa.
A mim, deste cando solitário onde me sento, apenas recordo as inúmeras coisas mais interessantes que poderia estar a fazer e as melhores companhias que poderia, neste momento, ter.
A situação balança entre a irritabilidade e o desolamento...
Bem-vindos à Segurança Social!

terça-feira, setembro 09, 2008

Não há, MESMO!!!


Depois de uma chegada bem chuvosa, onde a cerveja rendeu que se fartou (apesar de saber um pouco a água, lá para o fim...), de não haver a tão esperada Ópera, cuja organização tão bem preparou e tanto tempo dispendeu para que nada corresse mal, concluímos que há coisas que não se controlam... Mas não há reacção que páre aquilo que tem de continuar. E a chuva rendeu-se às milhares de pessoas que não arredaram pé do recinto e, perto da meia-noite, folgou os já desgraçados inundados que permaneceram de onde não saíram! Mesmo sem ópera, mesmo cheios de lama e completamente encharcados, os risos e as danças alastraram-se por todos os presentes e a diversão marcou o seu território, entre encontros e desencontros, porque, por vezes, temos de dar uma forcinha ao destino...
O sol voltou com energia nos restantes dois dias, o que facilitou os ânimos e o convívio... e o trabalho! Pois, porque há quem tenha de trabalhar... E são tantos, mas tantos, que o fazem!!!
Saliento aqui o discurso de José Casanova, director do «Avante!», particularmente espirituoso, fez rir todos aqueles que o compreenderam e que sentiram na pele o que ele expôs:

Camaradas e amigos construtores da Festa do Avante! – militantes do PCP e da JCP; homens, mulheres, rapazes e raparigas oriundos de todo o País e que durante meses construíram esta cidade de modo a que ela fosse durante três dias um espaço único de fraternidade – para todos, um abraço do tamanho da camaradagem e da amizade.
Amigos visitantes da Festa do Avante!, homens, mulheres e jovens de outras opções políticas e partidárias, nossos conhecidos de anos anteriores ou que pela primeira vez aqui vieram, e com os quais contamos nos próximos anos nesta Festa que também é vossa – para todos um abraço do tamanho da fraternidade.
Camaradas e companheiros que vindos de vários países do mundo, e com a vossa presença enriqueceram essa vertente essencial da Festa do Avante! que é a solidariedade internacionalista – para todos, um abraço do tamanho do mundo, abraço que vos pedimos que transmitam aos vossos camaradas e companheiros militantes dos partidos comunistas e das organizações progressistas nos vossos países: Alemanha, Argélia, Bélgica, Brasil, Cabo Verde, Chile, China, Chipre, Colômbia, República Popular Democrática da Coreia, Cuba, Dinamarca, Espanha, França, Grã-Bretanha, Grécia, Guiné Bissau, Holanda, Itália, Irão, Irlanda, Japão, Marrocos, Moçambique, Palestina, Peru, Rússia, República Checa, Sahará Ocidental, Timor Leste, Turquia, Uruguai, Venezuela, Vietnam.
E com esse abraço, camaradas e companheiros, vão também a solidariedade dos comunistas portugueses com a vossa luta e os nossos votos de muitos êxitos futuros

...
Uma Festa como a nossa é o resultado de uma imensa soma de vontades, de energias, de dedicações, de empenhamentos – e só assim ela é possível.
E é por isso que ela é o que é: este espaço amplo de fraternidade, de alegria, de convívio.
É por isso que ela é, em múltiplos aspectos, um caso único no nosso País.
É por isso que, como muito justamente dizemos, «não há festa como esta» - e é que não há mesmo.
É por isso que a nossa Festa é um espaço novo e um tempo novo, apontando para o futuro – um futuro que Abril nos mostrou ser possível e ser belo e que permanece como nossa referência essencial.
É por isso que na Festa do Avante! estão presentes, integrando-a, os valores e os ideais de Abril, visíveis em todo o processo da sua construção e nos três dias da sua duração – a justiça social, a liberdade, a solidariedade, a camaradagem, a amizade.
E é por tudo isso que nós dizemos, dizendo a verdade, que só o PCP tem condições para fazer uma festa com a dimensão, a beleza, o conteúdo da Festa do Avante! – só o PCP e nenhum outro partido nacional.

...
Porque nós não deixaremos. Nós: os construtores e visitantes da Festa do Avante!
É bom que saibam - e daqui lhes dizemos - que as suas atitudes em relação à Festa do Avante! são incompatíveis com a democracia e a liberdade que conquistámos em 25 de Abril – e que são eles que estão fora da lei democrática.
É bom que saibam – e daqui lhes dizemos - que nós, comunistas, da mesma forma que, no passado, e em condições bem mais difíceis, combatemos o fascismo, dando um contributo decisivo para que o 25 de Abril acontecesse, daremos, hoje, igual contributo para defender a democracia e a liberdade de Abril.
É bom que saibam – e daqui lhes dizemos – que à sua sem-razão responderemos com a razão dos ideais de Abril.
É bom que saibam – e daqui lhes dizemos – que não passarão! Não passarão!
Porque a Festa do Avante!, Festa de Abril, obra do colectivo partidário comunista e espaço de liberdade, é património da democracia, é património de milhares e milhares de comunistas e outros democratas. Que a defenderão. E que continuarão a fazer dela, todos os anos, a mais bela de todas as festas.


Não há Festa como esta!

quinta-feira, setembro 04, 2008

Início de estágio...

Desde 1976 (ainda faltavam 2 anos para o meu nascimento, imaginem só!), decorre, em Lisboa, a festa mais democrática que existe (pensavam que eu ia dizer comunista, não?!). E democrática para todas as pessoas, de todo o mundo.
Para mal de muita gente, na Festa do Avante! as pessoas trabalham de graça e pagam bilhete para entrar.
E trabalham mesmo! Milhares de voluntários, militantes, amigos, familiares e afins, dedicam-se de corpo e de alma (quando o corpo já não aguenta) à organização da Festa. Milhares de voluntários transformam a Quinta da Atalaia num mundo ideal para viver, sem preconceito, sem demagogia, sem lixo, sem violência...
E pagam mesmo bilhete! Inclusive estes milhares de voluntários, porque, mais que tudo o resto, estes sabem o quão importante é este dinheiro para a construção de um espaço digno para todos os visitantes.

Com base no respeito, na justiça, na liberdade, na expressividade, na tolerância, na amizade e na alegria (fora todos os outros bons sentimentos e ideais que por lá se encontram), o Avante! é responsável pela única Festa que mostra às pessoas que, na verdade, não seria assim tão difícil viver num mundo equilibrado de coisas boas! ;o)
Já marcaram?! O que esperam????

terça-feira, setembro 02, 2008

Areia para os olhos I

“Portugal está melhor”. Esta é uma frase que se mantém nos nossos ouvidos, vinda sei lá bem de onde. Talvez dos nossos governantes que acreditam que, se a disserem muitas vezes, acabará, eventualmente, por ser verdade… A taxa de desemprego desceu, o crescimento económico aumentou e há menos buracos no orçamento, de Estado, entenda-se. A crença instalou-se. Os nossos governantes acham mesmo que Portugal está melhor. Ou disfarçam muito bem! Se alguém lhes perguntar, eles responderão que Portugal está melhor. Bem, mas isto são eles. Os meus pais dizem que não sabem muito bem. Ouvem dizer que sim, mas não é essa a ideia que têm… Nem os meus vizinhos. Estes dizem que as coisas estão bem mal! Nem a Ti Zefa, velha espertalhona que mora ali ao lado dos meus pais, que diz que antigamente é que era. Talvez ela não percebesse muito bem, porque o “antigamente” dela refere-se a quando vivia às custas do marido. É óbvio que nesse tempo é que era! Agora, continua a viver às custas do marido, ou da pensão que resta da sua morte, daí considerar que as coisas estão do pior!



Há tanto para dizer… Podia começar por dizer que a taxa de desemprego desceu porque reencaminharam milhares de desempregados para os cursos Novas Oportunidades e esses milhares saíram da estatística. O crescimento económico deu-se devido a um sem número de sacrifícios da população, que ainda não colheu frutos alguns. O orçamento tem menos buracos… se assim o dizem! Se eu considerasse a Religião uma actividade cultural também taparia uns quantos buracos…
A crença geral é que basta! Basta de hipocrisia e falso moralismo, demagogia barata e oratória elaborada. Portugal está inserido num mundo que está, por si só, em constante movimento e, consequentemente, ruptura. Talvez seja por isso que também Portugal tenha as suas rupturas, com ou sem movimento…
Chegam exemplos de todo o lado sobre as mais variadas situações. Normalmente, entram em conflito, não coabitam e perde a situação mais nobre face à mais enfeitada.

segunda-feira, setembro 01, 2008

E se conheço!


Conheço muita gente com vontade de mudar o mundo, de torná-lo melhor, não só para cada um deles, mas para todos eles e todos os outros que não sabem o que é isso nem nunca vão saber. Conheço pessoas que lutam por direitos que nunca vão usufruir, por justiças que nunca vão ser suas, por deveres responsáveis e assumidos. Conheço pessoas que acordam de manhã com energia suficiente para agarrar dezenas dos que caem, com teimosia suficiente para matar a fome a centenas. Conheço pessoas que se deitam com lágrimas nos olhos por não conseguirem fazer mais e melhor. E conheço pessoas que fazem tanto…
Se pudéssemos conceber um mundo ideal, ele seria composto por outras pessoas, que não estas. Pessoas que já usufruíam dos seus direitos, das suas justiças, pessoas responsáveis pelos seus actos, que não caíam nem passavam fome. Se pudéssemos conceber um mundo ideal, ele seria composto pelos filhos de uma geração que não dorme nem descansa, para que o mundo seja, efectivamente, um lugar melhor!